"E se for tudo um abismo escuro e lábios que lhe beijam quando você está doente ou se sentindo só um pouquinho fora de alcance?"
Jukebox the Ghost

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Manifesto Psicanalista

             Hoje o post estará tanto aqui no Indigestão Literária quanto no Indigestão Social, visto que isso era pra ser só um texto poético mesmo, que acabou tocando nos pontos básicos da minha visão de cultura e formação de pensamentos e gostos, que são fundamentos importantíssimos pra explicar que a justiça só está em uma sociedade onde todos sejam iguais de fato. Não que eu seja um especialista em psicanálise, mas isso é o que eu acho, resume tudo que eu vivo falando sobre porque os seres humanos fazem o que fazem, desde assassinato até ouvir música...
            Sabe o que é mais legal nisso? Que eu não sou o que quero ser. Nem nunca fui ou nunca serei. A começar pelo meu nascimento, que eu nunca decidi. E ainda no ventre era forçado a escutar Tom Jobim. Não que hoje eu não goste, mas isso foi algo que me faz até hoje rejeitar, a princípio pelo menos, o que não corresponde à arte acadêmica. Leram pra mim livros que hoje eu percebo serem fascistas, ensinando-me como ser um rapaz correto, sem falar palavrão, ou roubar, que é o que faria sem essa fixação de valores se fosse preciso. Mas do jeito que esses valores me deixaram, mesmo se estivesse com fome eu não roubaria, porém, considero isso mais do que digno.
            Deus não existe. Pelo menos pra mim. Coisa das influências na minha juventude. Mas fui criado com tantos valores católicos que acho que o homem tem alguma espécie de direito sobre a natureza. Não é minha culpa, eu não escolhi. Foi tudo caindo como o céu, que nos molha como bem entender. Na verdade nem ele escolhe. Está condicionado às nossas interferências ambientais.
            Outra coisa é essa história de me vestir de um jeito, vestir de outro. Não teria pego uma calça xadrez com uma camisa listada se não soubesse desse existência de (não-)combinação. Tudo que eu gosto. Tem uma interação química no meu organismo, mas que é condicionada pelos valores culturais, como “comer doce para ansiedade”. Bastaria alguém dizer desde a minha infância que o salgado acalma mais. Ou o amargo. Eu poderia escolher outra coisa sem o fator cultural. E de nenhuma forma eu estaria escolhendo.
            Por isso não me importa se é moda da vez gostar de bolo, de torta, de café, preto ou branco, chocolate. Algo me levou a gostar de mim, e sendo assim eu sou assado. Não interessa quem está do meu lado.
            O mundo me disse mil coisas, das quais tirei mil e uma com ajuda de outras. Por isso não sei se sou eu que estou aqui dentro mesmo, ou tudo isso que estou sentindo só inventaram pra mim. Posso ser santo ou feiticeiro, depende do que os outros escolherem. Brancos já foram escravos, negros foram faraós, depois escravos, e nordestinos são vagabundos. Mesmo se fossem, não seria uma escolha deles. Não são nada mais do que o que o externo constrói em suas mentes, os faz acreditar que querem. Então porque a necessidade em julgar sem saber os reais motivos?
            Meu equilíbrio é para o lado com o qual mais convivi, ou com o que convivi melhor. Absorvi pelos simples fato de estar sorrindo em uma explicação. Por isso não sou inteligente. Nem bondoso, piedoso. Nunca serei bom escritor. Nunca. Se meus textos fossem bons, seriam apenas as palavras colocadas em minha mente. Não escolhi o que foi escolhido por mim pelos outros. Se meu DNA escolhesse, eu também nada seria além da decisão de cadeias protéicas. E minhas músicas, que também foram implantas nos meus ouvidos sem que eu soltasse um gemido. Eu só respondi gostando, sem querer. Na verdade sou apenas tudo o que os outros seriam em meu lugar. E eu nem escolhi descobrir o que é isso. Não que tenha descoberto exatamente. Não sei mais se sou o que sou. E porque eu deveria ser? Nesse mundo onde nada é tão tudo que já não se conhece o pouco...
Guilherme Schnekenberg

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