"E se for tudo um abismo escuro e lábios que lhe beijam quando você está doente ou se sentindo só um pouquinho fora de alcance?"
Jukebox the Ghost

sábado, 19 de março de 2011

Gosto do gosto que não existe

Eu gosto de coisas azedas. Por isso me amo tanto.
Gosto de coisas azedas, salgadas, doces e amargas.
Gosto de todas as coisas
todas as caras
todas as gentes
e todos os sons.
Mas acima de tudo,
gosto de nada ao mesmo tempo.
Não me iludo,
gosto de tudo ao mesmo tempo.
Gosto de provar o vento,
sentir o tempo,
dançar na chuva
e do cheiro de uva.
Não gosto de mato,
nem de bicho,
nem gosto de máquinas demais,
quero ver do que eu mesmo sou capaz.
Gosto de paz,
mas também gosto de guerra.
Gosto de música
de flores e amores
se vierem sem dores.
Gosto de gente, alegre ou triste.
Gente até mesmo que não existe.
Tenho medo de palhaços,
e de pessoas maquiadas demais!
Gosto de gente boa
boa com os outros,
gosto de gente que me ama
mas gosto ainda mais da minha cama.
Gosto de gostos
gosto de gostar
do sabor do vinho,
do sangue, da carne,
do pecado, da raiva.
Gosto de gula e luxúria,
inveja é indiferente
mas ira eu desgosto.
Gosto de saber,
e não deixo de esnobar
mas prefiro não saber.
Já gostei de um militar,
mas nunca do exército.
Gosto de divisão
e de matemática
também nunca entendi gramática.
mas sempre gostei de escrever.
Gosto de tudo
mas não gosto de nada.
Gosto da terra e do mar
gosto de mudar.
Gosto de tudo em mim,
desde que não tenha que mudar.
Gosto de mim mesmo,
pois sou todas as coisas
que gosto até mesmo sem gostar.
Gosto de tudo
e não gosto de nada.
Não gosto de mim,
Porque gosto muito de gostar.
Guilherme Schnekenberg

Luz Finita e Infinita

Tão infinita
É a vida,
Chama de vela acesa,
Prazer de ver tão linda luz.

Tantos erros, porém,
E não sabemos
O que realmente a vida é
Porque muito tarde aprendemos.

Tarde demais
Aprendemos o sentido da vida,
Já não adianta mais
Está na hora da partida.

A luz não é mais tão linda,
A chama, não mais tão acesa,
Não mais tão infinita a vida
Que já está por se apagar...
Guilherme Schnekenberg

domingo, 6 de março de 2011

Se eu pudesse acabar há um segundo

Eu queria que tudo acabasse agora. 
E não é culpa minha.
Não é falta de sorte, isso não existe.
Não é destino, isso não existe.
Não é falta de esforço, ou talvez seja.
Mas não é culpa minha.
Quem sabe se tudo acabasse agora, eu não sofresse o amanhã.
Se eu soubesse que a partir de hoje não sentiria mais nada.
Sofro e vejo sofrimento. Quero acabar com isso.
Mas se eu não visse, que diferença faria?
Se tudo acabasse agora, eu não precisaria levantar da cama. Sentar à mesa. Cortar o pão. Passar a manteiga. Queimar a boca com café. Escovar os dentes.
E depois estudar. Pra trabalhar. E só curtir o dinheiro. Quando a saúde não mais permitisse.
Se esse momento jamais acabasse, se o mundo acabasse nesse momento, se o mundo acabasse esse momento, com esse momento, e se acabasse, se acabasse, quando se acabasse, eu não faria mais nada?
Porque fazer nada parece tão bom e é tão vago.
Se acabasse agora, seria incompleto?
Se houvesse uma linha de chegada seria tão mais fácil.
E não é culpa minha.
Tentei sorrir. Respirar. Dormir. Respirar. Comer. Respirar. Ler. Respirar. Ouvir. Não respirar. É tudo finito, não é nada garantido.
O felizes para sempre é tão bonito. Como se aquela festa no final de um filme durasse pra sempre. Todos alegres. Os problemas resolvidos.
Eu não temeria, se acabasse há um segundo, quando não acabasse.
E o que você faz quando todos os seus sonhos se tornaram realidade?
E se a satisfação bastasse.
Mas não basta?
Se eu não precisasse decidir?
Se eu não tivesse que perseguir?
Mas e quando acabasse, agora, se acabasse, acabaria mesmo assim?
Para onde iria isso que sinto agora, meu caminho pretendido?
Queria poder culpar alguém.
Queria que chorar resolvesse.
Gostaria que sorrir resolvesse.
Mas nada acaba, porque eu quero sempre mais?
E eu? Tenho culpa eu. Tenho culpa?
Qual é o objetivo. Eu não sei?
Quem sabe se tudo acabasse, se quando acabasse, eu enfim descobriria, e no meu fim eu satisfeito acabaria, e talvez até a mim mesmo eu culparia
Guilherme Schnekenberg

Pedaço de pão e Grão de milho

Um pedaço de pão,
um grão de milho.
A barata no chão
e um ombro amigo.
Que sou eu se não essas pequenas passagens?
Nem um título,
nem um cargo.
Só um homem
do meio do mato.
O chão que eu piso,
o chão que eu ando,
o chão que é liso,
mas vivo pisando.
Do horário que ouço as galinhas cantarem
até quando eu apago as luzes,
tudo que eu faço
por debaixo dos panos.
Vai passar
a barata no chão,
eu na terra
o milho no pão.
Num piscar de olhos,
vai acabar,
parar
e será como se não tivesse sido.
Guilherme Schnekenberg

sábado, 5 de março de 2011

No abrir de um respirar

Eu queria poder começar
com um grande inspirar
com o pé direito pisar
com chave de ouro destrancar
pelo tapete vermelho entrar
Mas nunca começou
E duvido que algum dia comece
E quando começar, não vou nem perceber
Mas e se for só isso
e nunca começar?
Acho que eu mesmo vou ter que começar
Mas e se for só isso
e também não terminar?
Acho que eu mesmo vou ter que começar o fim.
Guilherme Schnekenberg